No alto do Vale do Mouro, nascem vinhos “de carácter” pelas mãos de Constantino Ramos

Em plena região do Alvarinho, o enólogo Constantino Ramos está a apostar na recuperação dos tintos e nas características únicas do Vale do Mouro para criar “vinhos mais frescos” e de “grande carácter”.

Constantino Ramos formou-se em Ciências Farmacêuticas em Coimbra e trabalhava em investigação clínica quando começou a ter “vontade de ir para o campo”. O enólogo tinha apenas uma “pequena relação” com o mundo rural por via da avó materna e da infância que passou pela região de Viseu.

Mas, o que é certo, é que cedeu a esse chamamento e acabou a fazer formação em Enologia, reconhecendo que esta Ciência do Vinho tem alguns pontos “em comum” com a investigação clínica.

Depois, começou a trabalhar com o produtor Anselmo Mendes, conhecido como o “senhor Alvarinho”, com quem continua a colaborar na região de Monção. E foi só em 2016 que se aventurou com um projeto próprio de produção de vinho.

Aproveitou a casualidade de o seu sogro ser da zona de Monção e de a família ter algumas vinhas nas freguesias rurais de Riba de Mouro e de Tangil para avançar com uma produção “muito limitada” de vinhos com alma, exalando as características únicas da terra.

Recuperar a tradição dos tintos na região do Alvarinho

A juntar a este caldo de interesses e circunstâncias, é preciso notar a paixão de Constantino Ramos pela História como outro ponto essencial. Assim, o enólogo lançou-se à ideia de ressuscitar a tradição dos vinhos tintos numa região que tem sido dominada pelo Alvarinho nas últimas décadas.

Porém, Constantino Ramos lembra que, outrora, esta zona minhota era marcada pelos tintos. Aliás, ainda hoje, na casa da maioria das pessoas que mora na região, o que se encontra mais à mesa são os copos com vinho tinto.

“Os primeiros tintos exportados” por Portugal foram de Monção para Inglaterra, na altura em que este país estava em guerra com os franceses, explica ainda o enólogo. Por isso, os ingleses tiveram que “encontrar substitutos” para os vinhos franceses de Bordéus e da Borgonha e encontraram a “alternativa em Monção”, diz ainda.

Assim, em parceria com os familiares, tratou de “recuperar vinhas velhas” e criou o Zafirah Tinto em 2016, um vinho produzido com as castas Alvarelhão, Borraçal e Cainho.

Em 2017, Constantino Ramos lançou-se a fazer o seu Alvarinho, o Branco Afluente, a partir de uma vinha plantada a cerca de 250 metros e situada muito próxima do Rio Mouro que é um afluente do Rio Minho. De resto, o nome deste vinho branco que tem uma acidez vibrante inspirou-se precisamente nesse dado hidrográfico.

Já mais recentemente, em 2019, Constantino Ramos lançou um segundo tinto, o Zafirah Vinha da Rocha, criado a partir do desenvolvimento de uma vinha específica.

Neste caso, estamos perante um blend que mistura castas locais, nomeadamente Alvarinhão, Borraçal, Loureiro e Espadeiro. O produtor define-o como um “vinho diferenciador” que é marcado por um ano de estágio em barricas de carvalho francês.

Vinhos de “grande carácter” e genuínos

A marca de vinhos de Constantino Ramos assenta numa “abordagem minimalista”, onde “não há grande intervenção”, e numa produção de tipo “familiar” que é feita “numa pequena garagem”, como o próprio refere.

No total, a produção é de cerca de 5 mil garrafas e estamos a falar de vinhos de “grande carácter” que manifestam o “potencial das vinhas”, segundo o enólogo que os criou.

Além disso, é preciso realçar que estes três vinhos Constantino Ramos denotam também as características únicas do chamado Vale do Mouro, onde as suas vinhas estão implantadas.

O facto de se encontrarem numa “zona mais alta”, leva à produção de “vinhos mais frescos”, com “teores alcoólicos mais moderados”, explica ainda o produtor.

A aventura de Constantino Ramos pelos mistérios e prazeres do campo e dos vinhos já dura há cinco anos.

E a cada ano que passa, “o vinho é diferente”, pois “reflete o clima” e as suas mudanças. Mas é precisamente essa inconstância ao sabor da natureza que permite “mostrar a parte genuína da terra”.

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