Saravá: Vinhos brancos feitos em Ponte de Lima com um gosto de mundo (e que “deixam as uvas falar”)

Saravá é um novo projecto de vinhos que está a crescer em Ponte de Lima, onde o enólogo e produtor Miguel Viseu se instalou depois de beber conhecimento de algumas das referências da viticultura mundial, como Paul Hobbs. Este projecto “familiar” quer afirmar-se pela qualidade, com vinhos que “deixam as uvas falar por elas”, com a menor intervenção possível. E o melhor é que estão à venda aqui na Virgu Wines!

O Saravá nasceu “na garagem” da sua casa como “um projecto familiar” e como resultado da vontade de Miguel Viseu “continuar um laboratório de ensaios” com os vinhos da região que escolheu para morar com a mulher, Emanuelle dalla Costa.

O filho do casal já nasceu em Ponte de Lima. “Achamos que fazia sentido que o nosso primeiro vinho nascesse aqui”, conta Miguel Viseu.

A aposta deste winemaker passa por uma “enologia minimalista”, no sentido de “mostrar a pureza das coisas, sem grandes tecnologias e sem grandes intervenções”, e com vinhos “não filtrados, com doses de sulfitos muito baixas, sempre com leveduras indígenas”. O objectivo é “que sejam as uvas a falar por elas”, sublinha Miguel Viseu.

Os vinhos Saravá também tiram partido da riqueza de uma região que tem “muitas vinhas antigas e muitas castas por explorar” e com “uma influência atlântica fantástica” que imprime “frescura”.

O vinho branco Saravá Skin Contact é “100% de trajadura”, uma casta muito típica da zona dos Vinhos Verdes.

“A Trajadura é uma casta muito presente na região, mas sempre trabalhada da mesma maneira, para dar volume e álcool aos lotes de Loureiro ou Alvarinho. Como isto era um projecto também para eu evoluir profissionalmente, para aprender, resolvi fazer o vinho ao contrário”, explica Miguel Viseu.

Assim, resolveu “colher as uvas não para dar álcool, mas colher as uvas um bocadinho mais verdes, nas zonas sombra da vinha”, para criar um vinho que é “um bocadinho mais experimentalista” e que passou por uma maceração de sete meses.

Já o vinho branco Saravá Loureiro “tem uma pequena parte de estágio em madeira”, com “36 horas de maceração pelicular” e só foi engarrafado no Verão”.

Todos os vinhos Saravá são “prensados numa prensa manual”, dentro de um projecto que bebe muito dos princípios da agricultura biodinâmica, embora Miguel Viseu não queira usar esse rótulo.

“Não nos queremos colar muito à imagem dos vinhos naturais, achamos que vinho é vinho”, diz, sublinhando que espera que os Saravá valham por si só, pela sua qualidade e por toda “a filosofia” do projecto.

O nome Saravá encerra, ele próprio, um capítulo da vida da história de Miguel Viseu e da mulher. O casal passou três anos em África, ele a fazer gestão comercial na área dos vinhos e ela a trabalhar numa Organização Não Governamental. Foi uma “experiência tão marcante” que decidiram que o projecto tinha que ter “uma pitada de África”, daí a escolha do nome Saravá.

Além disso, “Saravá é um mantra, é uma palavra com muita força”, explica Miguel Viseu, notando que “foi criada pelos africanos que foram levados para o Brasil” e que “servia de cumprimento” entre as pessoas. “Saravá quer dizer força da natureza e era a forma que eles usavam de se cumprimentar, de se desejar bem uns aos outros”, aponta o produtor de vinho.

“Nascido no vinho, criado no vinho”

Miguel Viseu nasceu numa família de produtores de vinho – “já é a quarta geração de vinhos do Douro”, como nota. Ora, tendo “nascido no vinho” e sido “criado no vinho”, foi quase inevitável abraçar um projecto em nome próprio, a meias com a mulher Emanuelle que conheceu no Brasil, numa das suas experiências com vinhos no estrangeiro.

Emanuelle é jornalista, mas tem um percurso ligado à alimentação saudável e à ecologia. Foi a combinação perfeita para fermentar o que viria a ser o projecto Saravá.

As preocupações ecológicas são transversais a todo o projecto, desde as uvas ao vinho, passando pelas garrafas que reflectem o interesse por manter “uma pegada ecológica muito discreta”. A garrafa é “bastante ecológica pelo seu peso”, explica Miguel Viseu, notando que “é leve” e que “quanto mais pesada, mais vidro, mais poluição na construção e no transporte”.

E as rolhas são naturais e utiliza-se cera de abelha natural no lacre.

No percurso de Miguel Viseu, as viagens são um traço determinante. Depois de ter estudado agronomia e de ter desenvolvido o interesse pela viticultura ecológica e biodinâmica, resolveu ir conhecer o mundo.

Foi assim que acabou a trabalhar directamente com o enólogo e produtor Paul Hobbs, conhecido como o “Steve Jobs do vinho”, na sua adega em Napa Valley, na Califórnia. Hobbs é uma das suas grandes referências e uma pessoa com quem diz que “aprendeu muito”.

Também passou pela Borgonha, zona onde existem algumas das Denominações de Origem mais conhecidas do mundo e castas prestigiadas como Pinot Noir e Chardonnay, entre outras. Bebeu todo o conhecimento possível ao longo de dois anos.

Teve ainda experiências na terra-mãe do vinho Malbec, em Cahors, a quase 600 km de Paris, e na Toscana, em Itália, onde trabalhou com Sean O’Callaghan, outro grande winemaker conhecido pelos projectos na região do Chianti Clássico.

No seu percurso, surgem ainda o Brasil, Moçambique e a África do Sul, onde teve algumas experiências de vindima.

Depois das “aventuras” ao longo de cerca de 10 anos pelo estrangeiro, Miguel Viseu voltou para casa para abraçar o projecto dos vinhos biodinâmicos de Vasco Croft na Aphros Wine, onde é, actualmente, enólogo residente. Mas não podia virar costas ao desafio de lançar, em nome próprio, o seu Saravá – como uma saudação de Ponte de Lima para o mundo.

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