O projeto “experimental” dos vinhos Saravá, em Ponte de Lima, deu o salto para o Paço de Calheiros, deixando a garagem do enólogo e produtor Miguel Viseu. Um passo de amadurecimento num projeto que está “a crescer devagarinho”, ao ritmo que o vinho determina, sem artefactos externos.
A produção dos vinhos Saravá saiu da garagem de Miguel Viseu para o majestoso Paço de Calheiros, um dos mais belos exemplares da arquitetura setecentista portuguesa e que tem uma vista surpreendente sobre a vila de Ponte de Lima. Com o vale do rio Lima aos pés, a nova “casa” do Saravá ajuda a entregar a “energia” certa aos vinhos de Miguel Viseu.
O enólogo já tinha sido convidado para trabalhar no projeto dos vinhos verdes do Paço de Calheiros. Mas só agora resolveu aceitar esse desafio, levando na “bagagem” o seu Saravá numa parceria perfeita. A mulher de Miguel Viseu, Emanuelle dalla Costa, também o seguiu nesta aventura, assumindo um papel importante no projeto de enoturismo do Paço de Calheiros.
Assim, o que era um “projeto experimental”, deu um salto rumo a uma maior profissionalização, com o acesso a outro tipo de infraestruturas, como conta Miguel Viseu.
Contudo, mantém-se a mesma filosofia assente numa enologia minimalista, com a menor intervenção química possível, e com uma produção limitada, com foco na qualidade acima da quantidade.
Os vinhos produzidos continuam também a ser os mesmos, o Saravá Skin Contact e o Saravá Loureiro que podem ser adquiridos na garrafeira VirguWines.
“A crescer devagarinho” e a “amadurecer”
No Paço de Calheiros, os Saravá nascem numa “adega subterrânea muito pitoresca” que permite “boas temperaturas”, com uma “refrigeração natural”, além de um “ambiente muito bonito para se trabalhar”, como explica Miguel Viseu. Essa boa “energia” também passa para os vinhos e ajuda a ter produtos finais de excelência.
A produção do enólogo é exportada para países como EUA, Alemanha, Bélgica e Polónia, o que indicia o crescimento do que começou por ser apenas uma “experiência de vinho, uma carolice”, segundo refere Miguel Viseu.
Os Vinhos
Sem grandes investimentos em publicidade, ou em marketing, “sentimos as pessoas a virem atrás de nós”, conta o enólogo, sublinhando que os seus vinhos passaram de “boca em boca”, com a “troca entre amigos e curiosos do vinho”.
Portanto, como diz Miguel Viseu, os Saravá estão “a crescer devagarinho”, mas a “amadurecer”, também aproveitando a boleia da “cultura dos vinhos naturais” que se afirmou durante a pandemia.
“Livres” no vinho
O projeto “está a crescer ao ritmo que pode crescer, sem vitaminas exteriores, ou grandes vacinas”, salienta ainda o enólogo. “Não temos dimensão para sermos grandes produtores”, acrescenta, realçando que isso também dá uma maior liberdade por não haver “grandes objetivos financeiros”.
Por outro lado, os Saravá continuam sem ser certificados como Vinho Verde e, portanto, mantêm-se “livres”, sem terem que cumprir as “regras” mais apertadas da indústria. Assim, abre-se o espaço à experimentação e a um aperfeiçoamento sem condicionantes, “mais com o coração” do que com os espartilhos técnicos, como vinca Miguel Viseu.
Além da produção própria com os Saravá, Miguel Viseu continua a ser enólogo nos vinhos Aphros do produtor Vasco Croft e mantém uma consultoria no projecto Paraíso Natural, também assente em produções pequenas e numa enologia natural.
O enólogo também está envolvido no projeto Sidra Nua que se dedica à produção de sidra, também em Ponte de Lima, com Tiago Sampaio e João Gomes e o recurso à fermentação natural e a maçãs tradicionais.