A vinha é bela #01
Quinta de Arcossó e
as vinhas centenárias
Texto: João Martinho / Fotos: Augusto Borges / Coordenação: Artur Azevedo
Texto: João Martinho / Fotos: Augusto Borges / Coordenação: Artur Azevedo
A vinha – tal como a vida – é bela e a história que lhe contamos neste primeiro “A Vinha é Bela” é provavelmente o melhor exemplo que vai conhecer hoje do quanto uma parcela vinhateira pode encerrar em termos de história, sabores e ainda brindar-nos com um dos mais bonitos quadros que as paisagens humanizadas permitem.
A primeira desta série de viagens ao mundo do vinho e a quem o cria foi à Quinta de Arcossó, na Ribeira de Oura, em Trás-os-Montes, cuja terra faz brotar o néctar matéria-prima que Amílcar Salgado já verteu para as mais de dez referências da marca. Mas antes de falar do resto, como a obra que ganha forma debaixo da terra, a ânsia está em falar-vos das vinhas centenárias, retorcidas pelos elementos da natureza, esquecidas numa parcela que o produtor da Quinta de Arcossó comprou em 2017.
Resistiam entre a vegetação do campo, como faunos em floresta encantada, até ao momento em que Amílcar, um epicurista do vinho, as podou, tratou e esperou até 2019 pelos primeiros frutos. São gotas do tempo, as que finalmente guardou no Quinta de Arcossó Vinhas Intemporais, um DOC de Trás-os-Montes que devia ser guardado na Torre do Tombo.
São centenárias, garante-nos o produtor, que lhes conhece as reviengas da maturidade. Quiçá uma destas tintas estivesse a frutificar nos seus primeiros outonos quando Dona Antónia, a ‘Ferreirinha’, a pouco mais de setenta quilómetros dali (no Peso da Régua), repousava de outras lutas que a doença da vinha dera em meados do século XIX, como fora a filoxera, que causou a inusitada campanha de plantação da videira ‘americana’, o resistente porta-enxerto que salvou Dona Antónia e o vinho do Porto da catástrofe.
Na Ribeira da Oura, uma das anciãs sucumbiu, recentemente. Não se sabe que casta é, mas pelo porte, estará entre as mais antigas. A longevidade que conquistou será homenageada. Amílcar quer retirá-la da terra com cuidado, limpá-la e envernizá-la para que possa ser um testemunho dessa herança centenária resgatada do chão, sem catálogo, mas com um potencial que só o século XXI soube dar. Figurará na futura Sala de Provas, de que já dá para adivinhar a estrutura.
A adega da Quinta de Arcossó é um miradouro sobre a parcela que lhe dá razão e ao mesmo tempo volta a esconder ela o ouro que lhe transforma. Desde a entrada da uva até ao mosto que se distribui consoante a especificidade da casta, os vinhos voltam a descer à terra. A Sala de Barricas desce abaixo da linha do solo e é aí que as dezenas de barricas de madeira repousam os vinhos que precisam deste contacto para ganhar a complexidade que os entusiastas lhe conhecem.
A VirguWines já lhe apresentou a quinta e o método de vinificação da Quinta de Arcossó, agora mostramos-lhe que um projecto desta dimensão nem sempre precisa de uma cooperativa nem uma empresa de capitais estrangeiros para produzir. Amílcar Salgado é especial por ser ‘gente como a gente’, falar com carinho e apego especial à terra e cuidar de cada videira (e as oliveiras) da parcela de vários hectares com o carinho de um horticultor para com a sua pequena horta. As parcelas produtivas brindam-no com o melhor do DOC transmontano e até com estes pequenos mimos, que são as vinhas centenárias.
É esse o mote que norteia a VirguWines e a rubrica A Vinha é Bela: A busca pelos epicuristas que tratam as grandes e as pequenas parcelas com a dedicação de quem quer ter o melhor vinho para apresentar numa mesa de amigos ou familiares. Queremos saber-lhes a história e contá-la, para que os entusiastas que abrem cada garrafa sintam esta proximidade, lhe conheçam os trejeitos, as embirrações contra a burocracia técnica, ou a vontade de experimentar ainda mais.
A próxima visita será a outro produtor onde procuraremos desconstruir mitos e humanizar a figura que é sempre mais que um nome num rótulo. Contamos consigo?