A VirguWines foi o exemplo de sucesso (e persistência) com honras de abertura do dia de palestras no Grande Auditório do ISCTE-IUL (Instituto Universitário de Lisboa), onde decorreu o WordCamp Lisboa 2025, nos dias 16 e 17 de maio.
A empresa criada pelo arcuense Artur Azevedo em 2016 foi um exemplo de como o WooCommerce – o plugin de comércio eletrónico para WordPress, usado para criar lojas online – renovou o estímulo ao web designer e a dezenas de vignerons que viram nas plataformas online a melhor forma de enfrentar um mercado tomado pelas grandes marcas e uma pandemia que fechou temporariamente os locais que eram o seu mercado.
A VirguWines é, por isso, um “caso de estudo”, como apresentado na palestra inaugural do segundo dia do evento. “Como o WooCommerce ajudou no sucesso online do meu negócio” foi o mote para Artur Azevedo contar a sua história e a de um projeto que começou por curiosidade, utilidade moderada e depois se tornou um exemplo para qualquer mercado online em Portugal.
Hoje, a VirguWines “já não é apenas uma simples loja online, mas sim uma comunidade de vignerons, consumidores e até criadores de conteúdo”. Mas voltemos aos primeiros passos deste negócio que começou numa garagem e ainda lá está, não por uma questão de ideia romanceada dos projetos de sucesso, mas porque é o melhor hub criativo para Artur Azevedo e para o produto diferenciado que hoje exporta para todo o mundo.
“Em 2016, desenvolvi um B2B (Business to Business), uma loja em WooCommerce para um cliente, um distribuidor de produtos alimentares e vinhos. Pareceu-me uma boa oportunidade de fazer dropshipping. Que é o quê? Montava uma loja online e assentava no stock, na faturação e na logística dele. Eu só fazia aquilo que sabia fazer, que era lojas online e queria testar a fundo o WooCommerce“, começa por contar o fundador.
Contudo, em 2016 o encanto pelos mercados online não era o mesmo. Como veremos, 2020 trouxe uma pandemia e uma revolução nos mercados digitais que tornou o mundo numa enorme loja global. Quatro anos antes disso, a aposta de Artur e do cliente tornou-se um exercício “giro” mas pouco rentável.
“Em 2019, esse meu cliente fechou, suspendeu a operação”, conta Artur Azevedo, e com esse fecho surgiu a primeira ameaça à ‘vida’ da VirguWines. “Já não fazia sentido, tinha feito o papel dela, ia fechá-la. Só que… o que é que aconteceu a seguir? Aí é que começa a nossa história”. E conta-a.
Vem a pandemia da Covid-19, o mundo entra em confinamento, restauração, garrafeiras e alguns mercados pequenos fecham. Em 2020, o fenómeno parecia avassalador, e ainda nem a solução do postigo – que nunca se firmou como o Governo à altura pensava – existia para escoar produto. O negócio que Artur Azevedo tinha deixado para segundo plano, que ia encerrar porque deixara de ter fornecedor, ganhava nova vida, por apelo dos vignerons.
“As pessoas com quem eu trabalhava indiretamente ficaram sem forma de chegar aos seus clientes. Os vinhos que eu vendia na altura eram de pequenos produtores, que não estão na distribuição. Os produtores que estavam presentes na [grande] distribuição continuaram a vender, se calhar até venderam mais, mas os pequenos produtores ficaram literalmente sem canal de distribuição, porque os vinhos deles estão à venda em hotéis, em restaurantes e em garrafeiras muito selecionadas”, observou.
Era tempo de fazer algo pelos que se tornariam os “heróis” da história: os vignerons, a designação francesa para “a pessoa que cuida das suas vinhas, faz o vinho dessas uvas e o seu engarrafamento”. Em português, a designação que existe é o viticultor-engarrafador. “É bem menos romântico”, atira o fundador da VirguWines, que prefere tratar os produtores do néctar com o mesmo esmero que eles próprios põem no processo de vinificação das suas marcas.
Eram os vignerons que apelavam ao web designer para manter uma forma de tirar o vinho das adegas. Fechavam-se as portas das garrafeiras físicas, abriam-se páginas online, e os vinhos tinham de estar lá. Havia produtores que lhe punham uma palete de vinho à disposição, para ter stock de venda.
“Aquilo assustou-me um bocado, mas agradou-me essa confiança. Tenho uma garagem – não é uma história romântica de tecnologia, é mesmo uma empresa-garagem, ainda hoje – não podia ajudar com paletes, mas posso comprar caixas de vinho. E na altura disse, ‘ok, se é para ajudar, vamos comprar caixas e vamos pagar a pronto. O pior que pode acontecer [se não vendermos], bebemos o vinho entre amigos’. Foi assim que aconteceu. Rapidamente transformámos a garagem em stock real, pago ao produtor, e começámos a vender vinho”, recorda.

E assim começaram a aparecer as pequenas-grandes marcas que deram nome e definiram o perfil de clientes da VirguWines, com produtores e marcas desde o Alto Minho, na sub-região de Monção e Melgaço, até Trás-os-Montes, ao Douro e à Bairrada.
Há nomes experimentados do mundo dos vinhos que se juntaram à magia do WooCommerce operado por Artur Azevedo, que ainda hoje continua a colecionar os mais prestigiados nomes a nível nacional.
Artur Azevedo ressalva que na grande distribuição também “há grandes vinhos”, mas o seu papel no mercado dos vinhos é dar palco às pequenas produções que não têm forma de enfrentar a despesa ou a escala de colocar o seu produto em todo o lado.
“Quem gostar de vinhos, de conhecer um bocadinho o nosso território, a nossa cultura, vale a pena conhecer esta gente. Há uma diversidade incrível. Somos dos três países com mais castas autóctones identificadas, e [eles] preservam métodos de vinificação”, declarou.
Numa palestra em que firmou a sua declaração de paixão pela diversidade do território e pelo mundo dos vinhos, Artur Azevedo não perdeu o pé, numa sessão em que o louvor era em torno do WooCommerce. “A magia foi feita também pelo WooCommerce, foi a ferramenta desde o início, que transformou uma garagem numa montra para o mundo”.
Hoje, a VirguWines é multiplataforma e multi-sensorial. O stock agora é real (a garagem continua a ser o cofre-forte), mas há ainda um rol de experiências que tornaram o projeto uma missão em torno do vinho e dos vignerons que o materializam.
“Já fizemos provas ao vivo, em que vendemos os bilhetes no próprio site. Temos um clube de vinho, em que a pessoa recebe uma caixa todos os meses. Temos um carrinho de compras e métodos de pagamento – e isto parece pouco para quem trabalha com tecnologia – que nem sempre as garrafeiras físicas têm. Cartões de crédito, PayPal, MB Way, etc.”, explica.
Faltam formas de chegar aos novos públicos? Faltavam. O vinho e as histórias que o envolvem chegam sob todas as formas.

“Para contar a história dos vignerons, foi fundamental o podcast. Tínhamos uma plataforma, estávamos dentro da garagem e era uma forma de contar as histórias deles. No podcast “N2Vinho”, criado em plena pandemia – e que dura até hoje – começámos por fazer provas online com produtores. Foi muito giro”, conta o criador.
“Na pandemia, estávamos todos sedentos de contacto. Chegámos a fazer provas em que tínhamos 50 pessoas a provar online, connosco. 50 pessoas que compraram vinho na VirguWines e estavam ali, a comentar as provas”, recorda ainda, congratulando os colegas de painel e “colegas de barricada” que foi adicionando a este propósito.
Manuel Moreira, um dos sommeliers mais reconhecidos em Portugal, com uma carreira de mais de 20 anos dedicada ao mundo do vinho; João Coutinho e Daniel Passos acompanham Artur Azevedo em mais uma das dimensões do projeto multidimensional, já com mais de 1800 subscritores (no YouTube).
“Já gravámos 36 episódios, provámos 48 vinhos com produtores. Qual foi o impacto disto tudo que fizemos, para os produtores e para o ecossistema dos vinhos no online? Temos 100 referências dentro de portas, listadas em stock. Esses vídeos estão na ficha do produto do próprio vinho. Ou seja, quando as pessoas querem saber como é que devem harmonizar, que temperatura deve ter o vinho, qual é a história que está por trás do vinho com o produtor, esse vídeo-podcast do YouTube está na própria ficha de produto”, destacou.
O futuro da história é ‘terra-a-terra’: VirguWines Cabana Maior e a coleção de videiras
Na história da marca, é justo dizer-se que foi o online – e o WooCommerce – que gerou uma das apostas mais ecológicas e verdadeiro museu verde do território que a VirguWines já fez.

Do sucesso online, ganhou forma um espaço de enoturismo. A VirguWines Cabana Maior é o local privilegiado para provar, à porta do Parque Nacional Peneda-Gerês, e uma verdadeira varanda para o verde minhoto. Para quem sonha com os cenários instagramáveis com um copo de vinho em primeiro plano, este local é o Holy Grail que tem de conquistar.
“É literalmente uma sala de provas, nas encostas do PNPG, com uma vista incrível, um spot brutal. A casa está pronta, vai abrir este ano. [No terreno] plantámos uma coleção de videiras. Não temos uma vinha, temos uma coleção de videiras, com 15 castas autóctones da Região dos Vinhos Verdes. É um sítio para passear pelas vinhas, ver o Alvarinho, o Vinhão, a Touriga Nacional… É para provar, ver”, assegura Artur Azevedo, que remata o seu sentido depoimento e projeto de vida com um apontamento que sintetiza a paixão que lhe dedica.
“Há uns meses, o meu filho mais velho, Vicente, que tem 9 anos, disse à minha esposa: ‘o pai não tem trabalho’. A minha esposa tentou explicar-lhe o que é que o pai fazia, ele percebeu o trabalho e disse: ‘o pai gosta do que faz’.”
E deixa a recomendação: “Se vocês gostam do que fazem, o WooCommerce poderá ser uma boa ajuda. Ele vai ser muito flexível para adaptar ao vosso projeto. Não vai ser fácil. Vão ter que ter resiliência, é preciso que encontrem uma paixão”, reforçou, recordando que a sua história é um longo percurso “de quase dez anos”.
Texto: João Martinho
Vídeo: Nilo Velez
Fotos (Wordcamp Lisboa 2025): Paco Marchante